Aquele bando de pássaros sempre voa ao leste, quase organizados, por volta das sete e trinta e cinco da manhã. E eu sempre os vejo, enquanto espero meu ônibus, no momento em que cruzam o prédio laranja. Alguns passam pela direita e outros pela esquerda, para, então, se encontrarem novamente e seguirem seu rumo em direção a algum lugar. Ou seria lugar algum? Será preciso saber aonde chegar para simplesmente voar?
Pela janela alta do ônibus sanfonado, me pego rindo para a moça do Ford Ka - o antigo -, que balança a cabeça ao som de notas por mim desconhecidas e sufocadas pela melodia de um trânsito matinal quase tranqüilo. Suas madeixas castanhas acompanham um ritmo delicado, fazendo da cena uma vinheta engraçadinha de ser apreciada.
E pouco antes, rio sozinha do nome do reformador de calçadas, exposto no vidro de seu carro velho: Zoaldo. É, amigo, sua mãe deu uma boa zoada com a sua cara ao optar por um registro tão... único!
Então, quando o trânsito começa a dar indícios de estresse, levo os fones aos ouvidos e me perco na trilha sonora que o mp3 player empresta. Um pouco de The Murmurs e de Chico, Funk Como Le Gusta e Bruna Caram, Elis e Bob Marley. Assusto-me com uma batida mais forte de bateria e uma guitarra descontrolada! É Dragon Force. Esqueci que o aparelhinho é do meu irmão.
Por fim chega meu ponto. Desço os dregaus saltitando, enfio as mãos no bolso do agasalho, e sigo em direção a mais um dia de aula, após ter experimentado mais um pouco das deliciosas pequenezas da vida.
Até mais ler.