... de algum tempo atrás.
Sabe quando você precisa simplesmente expelir? Você vai àquela festa, vira duas tequilas, mistura com duas ou três long necks, além de compartilhar da capiroska da amiga e da catuaba da amiga da amiga. Então chega em casa, sem ter a certeza de como o carro chegou ileso, assim com sua cabeça, deita na cama e pensa: ou eu coloco esses dois litros de álcool pra fora, ou eu tenho um treco. Pois é, expelir. Aí você tem uma overdose de um seriado insano, e começa a consumir toda a informação que ele te passa e precisa expelir. Colocar pra fora o quanto você teve vontade de ser todas as personagens ao mesmo tempo, e também não ser nenhuma, pra poder ser somente você mesma, uma mera espectadora, consumidora das caras, bocas e palavras jogadas na tela do computador. Isso sempre me acontece... Fico tão inspirada com o que vejo, que sinto como se eu tivesse sido a protagonista de cada mini-história, dentro de uma maior. Engraçado que na vida real não tenho vontade de ser o outro. Acho que estou feliz sendo eu mesma, com minhas loucuras, alucinações, sentimentos e dores. Acho, não, tenho certeza disso. Ah, a dor e a delícia de ser eu mesma. Como dói. E como me delicia. Se eu pusesse tudo na balança, ela se equilibraria. A homeostase do viver. Do meu viver. O sabor de notar que as coisas se equilibram, sempre. Nada é tão doloroso que não se possa suportar. Já diria o ditado: o frio se dá conforme o cobertor. E cobertor nenhum esquenta logo de cara... Existe a troca. O corpo esquenta o pano, o pano esquenta o corpo. É tão físico quanto químico. É como aquela força, a normal. “O cara aperta a mesa, a mesa aperta o cara: normal!”, diria Ricardo Godoy, meu professor do ensino médio. Sábias palavras, que eu mal poderia imaginar que seriam citadas num desabafo da madrugada, comparadas a um seriado, a psicologia gestaltista ou psicanálise, depende do gosto do leitor. Ou do desgosto. Mas como eu ia dizendo, a força que se aplica num determinado objeto, volta ao aplicador, com a mesma intensidade. Assim como o calor que é cedido ao cobertor, esquenta com a mesma intensidade. Eis a beleza da homeostase. Tendemos ao equilíbrio, e acredito que é por isso que vivencio tão intensamente esse meu momento íntimo com a tela animada: preciso equilibrar minha existência ficcionalmente para esquecer da bagunça da realidade. Até me desanimo ao escrever, porque se concretiza. Mas a idéia é fazer virar realidade. Aliás, já é meia-realidade, uma vez que foi notada. O meio caminho para o ser é o perceber. E perceber é comigo mesma. Analisar e entender, mesmo que demore, é meu passatempo predileto. Mais ainda do que as palavras cruzadas, e o seriado que eu devoro toda madrugada. E o problema é que eu não consigo parar de digitar. Até consigo, mas parece que tem uma bíblia pós-moderna dentro de mim querendo ser vomitada, igual às tequilas, cervejas, vodkas e catuabas. É como se esse monte de idéias, dentro de mim, pra nada servissem. Esse é o típico momento que eu desejo morar sozinha. Por mim eu pegaria o carro e viajaria sem rumo, apesar de saber pra onde o carro me levaria. Não, nada de GPS. É só minha vontade, minha saudade e minha intuição guiando as quatro rodas. É, agora acabou. Deixe-me voltar ao seriado.
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