Acendeu um cigarro para pensar. Não vira uma campaínha ou portãozinho que insinuasse um corredor até os fundos, onde poderia estar aquela lojinha de discos. Apoiou as mãos sobre o muro baixo da casa 661 e correu os olhos por ali: ela queria muito aquele disco.
Não enxergando nada além de um jardim mal cuidado, brinquedos jogados no cimento escurecido e uma menininha de vestido azul sentada no primeiro dos três degraus que levavam até a porta de entrada, caiu das pontas dos pés ao chão, com um chamado:
- A senhora quer alguma coisa? - disse uma mulher que abria o portão, limpando as magras mãos sujas no avental que condizia com sua condição.
Um pouco envergonhada pela indiscrição, ela se apressou a responder:
- Sim... Bem... Na verdade eu estou a procura de uma loja de discos, a senhora conhece alguma aqui por perto?
- Loja, não...
- Ah, então, sem problemas... É que eu ouvi dizer que a loja ficava no número seiscentos e sessenta e...
- Três. Sim, sim, menina. Mas não é loja, não. É um quartinho empoeirado, onde um maluco guarda suas tralhas e, entre elas, uns discos. Fica no fundo da casa da Zoraide, aqui do lado. Cê toca o sininho que tem ali do lado do portão, porque aí a Zoraide sabe que não é com ela e o doidinho vem te atender. Homem burro... Vira e mexe tem gente perdida por aqui, a procura da tal loja. Nem sabia que esse tipo divulgada aquele moquifo...