Na correria, é o que nos resta, né? E é tanta que, veja bem... Final de aula, pressa de ir embora pra atacar o Skype, "presente!" e "tchau, professora, até mais!". Troco meias palavras com um pessoalzinho no corredor, sem parar de andar, cumprimento outros pelo caminho e sigo até o ponto de ônibus. Amém. Todos os dias as linhas 210 e/ou 116 me carregam de um lado de Campinas ao outro. Pelo menos trinta minutinhos sentada ali. E gosto, não nego, não. Mas gosto de ficar sentada. O-D-E-I-O ter que me segurar naqueles canos besuntados pelo suor de mãos trabalhadoras. Nada contra elas, mas desde que não deixem seus suores no cano do busão. Enfim, olho no relógio e rezo para que um dos dois passe logo. Mal tenho tempo de olhar de novo e lá está o vermelhinho. Ai, que alegria. Com os fones já nos ouvidos, viajo ao som de qualquer melodia que coloquei no celular e subo até ele: "boa tarde!", "boa tarde!", "obrigada!". "Ai, ufa, tem lugar...". Acomodo-me ao lado de uma menina, num banco pertinho da porta. "Bom, preciso avisar minha mãe que estou chegando. Tou uns minutinhos adiantada, vai que ela sai e eu tenho que voltar a pé do ponto. Putz, mas ela tá sem carro, como vou fazer pra... O CARRO! AI, CACETA, O CARRO!". Nem um minuto de viagem e eu já aperto o botão de parada. Saio do ônibus rindo muito, e sigo em direção ao estacionamento da faculdade. Mais risadas, intercaladas com a vontade de contar essa história pra algumas pessoas específicas e encontrar alguém qualquer pelo caminho para compartilhar do meu riso. "Entrei no ônibus, paguei e lembrei que o carro tava aqui, meu!". "Ai, Déia, só você...". Pelo caminho avisto um casal de pássaros. Quase miniaturas de avestruz: corpo de bolinha, pernas e pescoço finos e uma cabecinha delicada. Um de pé e um sentado. Assovio daqui, e ele responde de lá. Assovio daqui, e ele de lá. Procura de onde vem o som, num desespero bonitinho. Assovio daqui e, ao final de sua resposta, ele se levanta e, de debaixo dele, saem três filhotinhos, correndo em direção à moita - que, para eles, imagino que deveria ser uma floresta. O encantamento foi tamanho, que nem liguei para os 2,50 que eu havia dado de presente ao ônibus. "Ai, como eu queria estar com a minha câmera...".
Até mais ler.
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