Às vezes você quase morre e segura o coração na mão, os olhos nas mãos e nenhuma cor no rosto. Às vezes você quase chora, e cria um bolinho feito de sentimentos embrulhado em papel, em algum lugar entre a garganta e o estômago. Aí você empresta um estômago de boi por alguns minutos - ou horas, e digere tanta celulose. E depois os sentimentos. Quase sempre você sorri. Não sei se penso nisso como sendo algo bom, algo de seres humanos felizes, ou ruim, de seres humanos automáticos e falsos. Prefiro reciclar essa idéia mais tarde. Às vezes você quase xinga e nesse quase, quase se cria uma gastrite. Às vezes você quase mata. E quando isso quase acontece, você quase se arrepende. Às vezes você quase vai. Às vezes você quase fica. Às vezes você quase desiste. Quase desiste. Quase. Por um triz. E no espaço de tempo existente entre o sim e o não; o quase e o ocorrido; o tudo e o nada; existe alguma coisa e alguma sensação. Ou então a coisa é a sensação, e a sensação a coisa. Ou elas se completam. E existe a opção. E na opção mora o momento da decisão e na decisão mora uma previsão de futuro. E na previsão de futuro, o julgamento do aceitável, e a aranha na mosca, a mosca na velha e a velha a fiar. E é tudo tão rápido que na breve explicação só cabe um quase. E uma provável vontade reprimida por ele. E um texto estranhíssimo, sem pé nem cabeça.
|